sexta-feira, 13 de abril de 2012

Impressões de uma visita à igreja de Lloyd-Jones e Spurgeon na Inglaterra (parte 1)

Amados irmãos e amigos,
Depois de um tempo ausentes do blog estamos novamente aqui escrevendo algumas linhas. Como muitos de vocês sabem, a nossa ausência se deve a estarmos fazendo parte de nossos estudos na Itália durante 7 meses. Durante esse tempo também estamos aproveitando para viajar e visitar vários lugares da Europa. Um desses lugares foi a cidade de Londres durante o final de semana da Páscoa. Como amantes que somos, eu e a minha esposa, das pregações de Charles Spurgeon e de Martyn Lloyd-Jones, não podíamos deixar de passar pelas igrejas que foram pastoreadas por estes grandes homens de Deus. Queríamos conhecer estes lugares históricos e ver também um pouco da realidade atual dessas igrejas. Como resultado dessa visita, quero lhes escrever um pouco sobre as nossas impressões. Portanto, este post será um tanto atípico se comparado com o estilo que caracteriza os nossos posts anteriores.
Finalmente, quero ressaltar que as opiniões que apresentarei a seguir são baseadas em apenas uma única visita a duas igrejas. Mas como diz um velho ditado: “a primeira impressão é a que fica”.

Um resumo da história dois locais visitados
A igreja de Spurgeon é o Tabernáculo Metropolitano Batista, que foi pastoreada por Spurgeon entre 1854–1892. Hoje, esta igreja está sendo pastoreada pelo Dr. Peter Masters desde 1970. Por outro lado, a igreja de Lloyd-Jones é a Capela de Westminster (não é a Abadia de Westminster, embora muitos confundam), que foi pastoreada por Lloyd-Jones entre 1939-1968. Atualmente é pastoreada pelo Rev. Greg Haslam.
Escrevo este post pressupondo que vocês conhecem parte da história dos grandes ministérios desenvolvidos nestas duas igrejas por Spurgeon e Lloyd-Jones. Acho bom relembrar que Spurgeon era batista e Lloyd-Jones metodista calvinista (algo como presbiteriano). Porém os dois tinham um denominador comum: eram reformados, isto é criam nas doutrinas da graça e nas cinco solas da reforma, o que se denomina também como teologia calvinista. Ambos admiravam aos seus ancestrais puritanos e aos pais da reforma. Ambos eram fieis pregadores da Palavra de Deus, tinham a pregação como o centro do culto e eram conhecidos pela sua poderosa pregação expositiva. Isto significa que eles abriam a Bíblia e ensinavam o que nela está escrito, nem mais nem menos. Finalmente, também acho importante relembrar que ambos foram de épocas diferentes. Lloyd-Jones foi o mais recente e ele admirava a Spurgeon, como ele mesmo relata em seus livros.
O resultado destes dois ministérios foram dezenas de livros das pregações destes homens que foram traduzidas a diversas línguas e que até hoje inspiram a muitos cristãos. No Brasil, editoras como a Fiel e a PES tem se dedicado a traduzir as obras destes homens de Deus.

Impressões da visita
Sobre o templo
Ambos os templos são bastante grandes para os nossos padrões. Por fora ambas as igrejas seguem iguais como nos tempos dos pregadores. Contudo, por dentro, a igreja de Spurgeon foi totalmente reconstruída. Ela sofreu as consequências dos bombardeios da II Guerra Mundial e foi reerguida já em um estilo moderno. Hoje é menor, estimo que tenha capacidade para aproximadamente umas 2.000-2.500 pessoas (sendo que na época de Spurgeon creio que chegava a receber umas 10.000 pessoas a cada domingo). Já a igreja de Lloyd-Jones segue como era, muito bonita e antiga por dentro, estimo que deve ter uma capacidade para umas 5.000 pessoas.

Sobre o ambiente de culto
Quando chegamos no culto ficamos impressionados em ambos os lugares, um deles positivamente e outro negativamente. Foram duas realidades completamente diferentes. Quando entramos na igreja de Spurgeon o ar era de extrema solenidade. Ficamos impressionados em ver que as pessoas estavam sentadas esperando começar o culto em silêncio, concentradas na sua leitura bíblica e oração. Uma música muito suave de um órgão bem antigo tocava no ar. As crianças estavam sentadas no culto junto aos pais em silêncio e a ordem do lugar dava uma sensação de estar realmente num lugar de muita reverência. Foi tal a sensação que eu tive vergonha de tirar fotos dentro da igreja no momento do culto (agora me arrependo não ter sido mais ousado e ter tirado pelo menos algumas fotos da congregação!). O templo lotou, tinha aproximadamente umas 2.000 pessoas nesse culto com pessoas de todas as idades. Parece ser também que estas eram de diferentes classes sociais e nacionalidades. Claro que com esta impressão fomos para a igreja de Lloyd-Jones esperando encontrar algo similar. Mas não foi assim.
Quando chegamos na igreja de Lloyd-Jones para o horário do culto a porta principal estava fechada, parecia que não iria ter culto. Logo descobrimos que a entrada era pelo lateral da igreja e já achamos estranho. Caminhamos por um corredor e um pátio até chegarmos ao suposto lugar do culto. O culto foi numa sala aos fundos do templo. Parecia um lugar para os eventos da igreja, uma sala bastante pequena considerando o tamanho da igreja. O culto estava por começar, as pessoas estavam em pé conversando bem extrovertidas como numa reunião familiar. Eram somente jovens-adultos e alguns poucos anciãos. No total éramos, no máximo umas 30 pessoas! Quem dirigiu todo o culto e a pregação foi o filho do pastor principal, que é também pastor, um rapaz que não tem mais de 30 anos. O ambiente era bem informal e esta vez sim tive coragem de tirar as minhas fotos! O pastor principal e sua esposa estavam sentados assistindo o culto também.
Depois do culto, em ambas as igrejas foram muito gentis conosco. Na igreja de Lloyd-Jones pedimos para visitar o templo principal (que nos disseram que é usado nos cultos da manhã). Tiramos fotos do templo e da sala que era usada por Lloyd-Jones, como podem ver nas fotos abaixo.

Sobre o estilo do culto
O estilo do culto também foi completamente diferente (o que já imaginamos com a simples impressão inicial da chegada aos lugares). Na igreja de Spurgeon cantamos 5 hinos de um hinário reformado e a música era tocada com um órgão antigo. O estilo era bastante antigo se comparamos com aquele que estamos habituados, mas confesso que foi muito lindo escutar a voz da congregação e não de uma pessoa em particular. Toda a congregação cantava, não era possível identificar a voz de um regente ou algo assim. Entre os hinos houve uma introdução com leitura da Palavra (todo um capítulo), oração, informações e pregação. Por outro lado, na igreja de Lloyd-Jones tudo parecia muito similar ao que estamos acostumados a ver em muitas igrejas brasileiras. Somente cânticos de louvor com muitas repetições de frases e um grupo de louvor na frente. O grupo era bom, tocavam e cantavam muito bonito, mas não era a congregação o que ressaltava na adoração e sim as vozes dos músicos. O pastor interagia mais com o público de um jeito bem informal. Teve um momento do culto que houve algo como um quebra-gelo que não entendemos muito bem como funcionava, mas vimos que as pessoas ficavam conversando entre elas sobre o que aconteceu na semana ou algo assim.

Sobre a pregação
Finalmente gostaria de comparar o mais importante: a pregação da Palavra de Deus. Ficamos muito surpreendidos e felizes ao escutar a mensagem pregada pelo Dr. Peter Masters, um pastor de aproximadamente uns 60 a 65 anos de idade, na igreja de Spurgeon. Confesso que faz tempo não escutava uma mensagem tão poderosa e tão clara. O seu estilo de pregação é muito similar à que tinha Lloyd-Jones. Além disso, o seu acento de inglês formal e polido deu uma lembrança muito forte às pregações de Lloyd-Jones que ouvimos na internet. Ele expôs o capítulo 24 de Lucas, mostrando vários detalhes da ressurreição de Jesus. Acho que nunca esqueceremos esta mensagem pela clareza e didática da mesma. A mensagem durou aproximadamente uns 50 minutos. Sem brincadeiras, sem histórias nem anedotas. Somente a exposição do capítulo, trazendo à luz o contexto, as doutrinas e ensinamentos e as aplicações práticas para os nossos dias. Simplesmente fantástico! Saímos de lá renovados (ou melhor, reformados!). Ainda bem, pois a mensagem da noite na igreja de Lloyd-Jones deixou muito que desejar.
Na igreja de Lloyd-Jones quem pregou foi o Pr. Andrew Haslam, filho do pastor titular. A mensagem não teve heresias. Ele falou de como será a ressurreição dos mortos, baseado em 1.Coríntios 15. Contudo, para nossa surpresa (nada grata) o estilo de pregação era bem moderno e “batistão” (digo isto com pena por sermos também batista). Foi bem similar ao que vemos muitas vezes no Brasil e acredito ser a tendência americana nos influenciando. Esse estilo informal com muitas historinhas no meio, brincadeiras para relaxar a plateia e em alguns momentos uma atitude quase irreverente, como se estivesse sendo uma palestra e não um culto ao Rei Soberano e Santo dos santos. Para nossa tristeza foi apenas mais uma pregação que escutei. Parecia ser para uma reunião de jovens descolada, não um culto. Confesso que saímos tristes de lá, pois a nosso entender a história dessa igreja tinha um peso demais nos ombros daquele jovem pregador. Quero deixar claro que não tenho nada contra o estilo informal, vejam que eu gosto do Mark Driskoll, que não tem nada do estilo reformado clássico. Porém Driskoll abre a Bíblia e fala com poder e exortação aos ouvintes, expondo muito claramente o conteúdo da Palavra.

Conclusões sobre a visita
Ora, imagino que vocês devam ficar com a mesma pergunta que eu tive depois dessas visitas: por que tanta diferença entre duas igrejas que foram muito similares nos tempos atrás? Por que a igreja de Lloyd-Jones, que teve seu ministério muito mais recente do que Spurgeon tem mudado tanto? Como a igreja de Spurgeon ainda se mantém firme depois de ter passado tanto tempo? O que está por trás do pensamento dessas duas igrejas e que reflete nos cultos que presenciamos? Onde estão as famílias que frequentavam a igreja de Lloyd Jones?
Se quiserem escutar uma opinião pessoal sobre estas questões, esperem ler a próxima parte deste post!

Um grande abraço,
Em Cristo
BBVC

Fotos: 1) eu e a minha esposa na frente do Tabernáculo Metropolitano (igreja de Spurgeon)
2) O Dr. Peter Masters pregando na igreja de Spurgeon; 3) Frente da Capela de Westminster (igreja de Lloyd-Jones); 4) Interior do templo da Capela de Westminster; 5) O Rev.Andrew Haslam pregando na igreja de Lloyd-Jones.






11 comentários:

  1. Também visitei o Tabernáculo Metropolitano em Londres. A impressão foi a mesma. Admirável como conseguem manter tanta gente, de tantas etnias, com tanto fervor pela Bíblia em um culto em estilo tradicional em plena Londres do século XXI. Quando cheguei, o culto já tinha começado e tive que esperar uma oração acabar para poder entrar. Só que a oração demorou 30 min (contados no relógio). Não que isto seja sinal de espiritualidade, mas revela que as pessoas não estão ali pra brincadeira ou por causa do show. A pregação foi muito boa.

    Não conheci a Capela de Westminster, mas na Inglaterra o culto principal é sempre o da manhã. Algumas igrejas têm um culto tradicional de manhã e uma reunião informal para os jovens de noite, portanto, uma visita ao culto da manhã seria necessária antes de tirar conclusões definitivas.

    ResponderExcluir
  2. Oi Erico,
    muito pertinente o teu comentário sobre os horários do culto. Porém, antes de colocar esses comentários do blog eu me certifiquei de não estar falando bobagem. No próximo post comentarei mais a respeito, mas antecipando: na igreja de Lloyd-Jones só fica uma pessoa daquela época, todos sairam. Além disso, embora o culto da manhã tenha mais pessoas, ainda assim o número é bem baixo se comparado com os tempos de gloriosos ou com a igreja de Spurgeon. Por fim, um dos aspectos mais tristes é a abordagem e teologia que eles tem encarado, que nada tem a ver com a época de Lloyd-Jones, mas isso será matéria do próximo post...
    abraços

    ResponderExcluir
  3. Oi Ale... Não conheço nenhuma das igrejas mencionadas, mas fiquei curiosa pelo próximo post jejejeje
    Abs Richiii

    ResponderExcluir
  4. Ola, eu já sabia dessa "má fama" da Igreja do Lloyde Jones, mas nunca tinha lido sobre uma visita a essa igreja, o que eu sabia era da boda do dono da PES, que estudou com LLoyde Jones, de que a igreja tinha decaído:

    Sem bem que uma coisatem que ser notada, no Tabernáculo, nem tudo sempre foi flores: vamos dizer que desde que o Master assumiu o pastoreado, ele colocou a Igreja pela graça de Deus nas rédeas de novo (depois da morte de Spurgeon, a Igreja teve altos e baixos, com pastores fracos e evangelicalismo americano no estilo de "decisionismo"; e depois dos anos 30, com pastores que pelo que vi na net chegavam a ser arminianos (tanto que eu li ema algum lugar que muitos iam ouvir o Jones na Capela de Westminster pela decadencia do Tabernáculo)

    Quer dizer, hoje eu fico feliz pelo Tabernáculo ser como é, mas triste pela Capela (esses dias uma amiga minha esteve em Londres, eu indiquei que ela fosse no Tabernáculo, e ela foi, mas não tive coragem de indicar a Capela)

    Alias, vc viram que os sermões do Tabernáculo são traduzidos na hora do culto em cinco linguas, entre elas o português, e que o Tabernáculo disponibiliza na Web? eu ouço os sermões do Master por lá, hehehe

    http://www.metropolitantabernacle.org/Sermons/Portuguese-Sermons

    Abraços
    Armando Marcos
    Projeto Spurgeon

    ResponderExcluir
  5. ah, claro, tem os sermões em inglês, eu acredito que em breve eles disponibilizem a narração para eu ouvir (hhehe) mas aqui segue o link com o vídeo e MP3 do sermão que vcs ouviram no Tabernáculo

    http://www.metropolitantabernacle.org/Sermons/2012/04-Apr/What-the-Resurrection-Tells-Us

    Não precisam contar com a memória somente, hehehe

    Abraços
    Armando

    ResponderExcluir
  6. Caro Armando,
    obrigado pelo seu comentário e agradeço especialmente pelo link do áudio daquela pregação.
    Falando agora sobre as diferentes etapas da igreja de Spurgeon,eu estou sim ciente disso, mas preferi deixar para escrever a respeito no próximo post (acho que será na semana que vem). Também quero escrever sobre as diferenças entre Masters e outros reformados, para mostrar todas as perspectivas possíveis do que vi e do que escuto a respeito.
    Um grande abraço

    ResponderExcluir
  7. Achei que depois de RT Kendall e com o pastorado de Haslam as coisa melhorariam na Westminster Chapel. Pelo menos a breve declaração de crenças deles contia reformada na soteriologia. Sabe se a Capela está ligada ao movimento Newfrontiers????

    ResponderExcluir
  8. Caro Vandim,
    vou falar um pouco mais disso no próximo post, mas a linha de RT Kendall e Haslam são bem diferentes às raízes reformadas que tinha na época de Lloyd-Jones. Um dos aspectos nos que pode-se ver isso é na grande ênfase que eles dão à declaração profética na igreja atual (pode ver isso na própria declaração da igreja no seu site). Outro detalhe é que, segundo tenho entendido, o próprio Lloyd-Jones solicitou que Kendall não participasse da seu sepultamento, justamente pelas grandes diferenças que eles tinham.
    Sobre o movimento Newfrontiers, não sei nada.
    Abs

    ResponderExcluir
  9. Interessante notar que, visando manter a pureza da doutrina, Spurgeon viu-se obrigado a romper com a União Batista. Pelo visto, Peter Masters seguiu o exemplo em 1970 quando assumiu o pastorado do Tabernáculo Metropolitano.
    (Essa história de Spurgeon pode ser encontrada no apêndice 1 do livro "Com Vergonha do Evangelho" de John MacArthur.)

    ResponderExcluir
  10. Muito bom esse livro, Felipe! Abraços

    ResponderExcluir
  11. Quero compartilhar um fato com os irmãos.
    Recentemente o Brasil recebeu um casal de missionários,vindos de Londres enviados oficialmente pelo Tabernáculo Metropolitano(Igreja de Spurgeon)para São Paulo.Eles foram enviados pelo atual pastor do tabernáculo(Peter Masters)a fim de dar início a um trabalho evangelístico,que se Deus permitir,venha a se tornar futuramente uma igreja batista-reformada.
    A Missão já tem site e está aberta à todos os visitantes,na região do Ipiranga-Sacomã.

    End:Lino Coutinho 1.915,próxima ao terminal Sacomã.

    www.missaosaopaulo.org/content.php?pageid=7

    ResponderExcluir