quarta-feira, 20 de março de 2013

Sermão do Monte XXVI: A oração do Pai Nosso (Mateus 6.9-13)



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Capítulo XXVI

A oração do Pai Nosso

 

Alejandro G. Frank

Introdução

Neste capítulo estamos dando sequência ao estudo sobre a oração que começamos no capítulo passado. Anteriormente vimos em Mateus 6.5-8 como os hipócritas procediam equivocadamente com a oração, utilizando-a para seus próprios propósitos, para serem vistos e exaltados pelos homens. Já dissemos que a oração é um instrumento santo que pode ser corrompido nas mãos do ser humano pecador, sendo utilizada como meio para mostrar uma aparência de piedade meramente exterior. Como bem disse o Senhor Jesus em outra ocasião, tais atitudes são próprias de homens que se assemelham a sepulcros branqueados, pois externamente parecem bonitos, decorados e enfeitados, mas por dentro há morte e hediondez. Assim são aqueles que usam a oração para sua própria glória.
Por este motivo, o Senhor Jesus se preocupou também em deixar instruções sobre como seus discípulos devem orar da maneira certa. Já vimos sobre a atitude de isolamento e intimidade com o Pai, além da confiança e fé que precisamos quando nos achegamos a Ele. Ora, a oração foi um ponto tão importante da vida cristã para o Senhor Jesus que reiteradas vezes ele tratou sobre este assunto. Enquanto que em outros pontos ele destacou apenas os princípios, na oração ele desdobrou os pormenores. Foi assim que ele se preocupou em nos deixar inclusive um modelo de oração que mostra os principais pontos a serem abordados. Lucas 11.1 nos relata que em certa ocasião os discípulos de Jesus vieram a ele e lhe pediram que lhe ensinasse a orar, e ele os ensinou o mesmo modelo de oração apresentado na pregação do Sermão do Monte. Jesus não os repreendeu por eles não saberem como orar, antes os ensinou um modelo muito simples, mas com princípios extremamente profundos que abrangem todos os pontos essenciais da oração. No mesmo texto de Lucas 11.1 vemos também que João batista também se preocupou por ensinar seus discípulos a orarem. Orar corretamente é essencial para a vida cristã e, por tanto, precisamos aprender como Deus deseja que venhamos a ele na oração. Tiago 4.3 nos diz: “pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres”. Precisamos aprender como pedir, como orar, e como clamar ao Pai. Com este propósito Jesus ensinou o modelo conhecido como o Pai Nosso que consideraremos a continuação:
“Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal [pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém]!” (Mateus 6.9-13)

O Pai Nosso: um modelo de oração

Muitos têm usado esta oração como a única forma de oração pela que podemos chegar a Deus. Estes oram somente o Pai Nosso, pois acreditam que esta é a única oração que Jesus aceitou. Porém, notem que reiteradas vezes temos dito que se trata apenas de um modelo ou exemplo de oração que fornece os princípios gerais para qualquer oração. Qual é a base para interpretarmos o Pai Nosso como apenas um exemplo? Primeiro, é claro que Jesus disse: “Portanto, vos orareis assim...” (verso 9). Ora, isto pode significar que devemos orar somente assim ou que devemos seguir esse exemplo de oração como inspiração para a oração. Independentemente do caso, é claro que Jesus estava dando um exemplo que de alguma maneira deveria ser útil para seus discípulos, mas reforçando a nossa afirmação de ser apenas um modelo note que Jesus orou em diversas ocasiões de maneiras muito diferentes. Por exemplo, em algumas situações simplesmente levantou os olhos aos céus e clamou a Deus. Em outras ocasiões ele, com a mesma atitude, levantou o rosto e simplesmente agradeceu ao Pai com curtas palavras. Outras vezes, como na oração sacerdotal de João 17, vemos Jesus orando de uma maneira muito mais estendida. Enfim, em todos esses casos a sua naturalidade na oração e profundidade na comunicação com o Pai foi tão notória que seus discípulos chegaram e lhe disseram: ensina-nos a orar (Lucas 11.1), e Ele lhes deu este exemplo de oração, como se faz com uma criancinha pequena que ainda não sabe estruturar suas frases por si mesma e a ensinamos uma oração decorada. Em terceiro lugar, notem que temos alguns relatos da era apostólica em que os discípulos de Jesus oraram de maneira espontânea (por exemplo, em Atos 4.23-31). Terceiro, e reforçando o dito no segundo ponto, podemos dizer que não temos outro relato no Novo Testamento de alguém orar o Pai Nosso após este ensinamento de Jesus. Paulo orava por diversos pedidos específicos (veja, por exemplo, Efésios cap.1 e 1.Tessalonicenses cap.1). No entanto, não quero dizer que é errado orar em certas ocasiões o Pai Nosso, mas esta não é a única oração para nos aproximarmos de Deus, é apenas um modelo.
Depois de ter dado os nossos argumentos de por que esta oração é um modelo, falta explicar o ponto mais importante do argumento, que é este: por cima de todas as outras considerações, o Pai Nosso é um modelo ideal de oração porque em sua simplicidade cobre todos os aspectos possíveis envolvidos em uma oração.  A grandeza desta oração é que ela é curta e completa. É como se fosse um esboço, uma estrutura de oração, que nos traz todos os princípios necessários para orarmos ao Pai. Esta estrutura apresenta-se da seguinte maneira: Primeiro, há uma invocação que fixa o destinatário da adoração na oração. Posteriormente, Jesus apresenta três pedidos centrados em Deus e sua glória (versos 9 e 10), para depois apresentar três pedidos centrados nas necessidades humanas (versos 11 a 13). A seguir consideraremos todos esses pontos essenciais da oração.

O destinatário: invocação

A oração não começa com pedidos, mas com uma invocação. O Senhor começa: “Pai Nosso que estás nos céus” (verso 9b). Com isto, Jesus coloca toda a atenção em quem é o receptor de nossa oração. A oração não é à virgem Maria, nem aos santos da Igreja, nem a nenhum homem ou ídolo, mas apenas ao Pai que está nos céus. No modelo de oração temos o exemplo perfeito da santa Trindade em ação. É o Pai o receptor das orações, a quem vai dirigida a nossa oração. É o Filho Amado quem nos ensinou a orar e o nosso mediador, o único mediador, por quem somos capazes de chegarmos ao Pai, por meio do seu sacrifício mediador para que nossos pecados fossem perdoados e pudéssemos chegar à aceitação diante do Santo Pai (1 Timóteo 2.5-6; 1 João 2.1-2). E, por último, é o Espírito Santo que nos auxilia na oração, como a Bíblia nos ensina, acendendo esse desejo pela comunhão espiritual em nossas almas e inclusive nos auxiliando quando nem sabemos bem como orar (Romanos 8.26-27). Observem que há uma comunhão perfeita da Trindade no ato da oração, da mesma maneira que há uma comunhão perfeita da Trindade no ato da salvação: Deus Pai predestinou os que iriam ser salvos, Deus Filho fez o sacrifício pelos eleitos e Deus Espírito Santo faz a obra regeneradora para trazer os eleitos ao arrependimento e fé para salvação.
O fato de a oração começar com a invocação ao destinatário nos leva também a precisarmos meditar sobre o ato que estamos por efetuar. Precisamos nos acalmar para invocar a Deus. Geralmente queremos nos inclinar para rapidamente trazermos os nossos pedidos. Porém, é ao Santo Pai criador de todas as coisas que estamos nos achegando. Não se trata de um mero “amiguinho” ou “paizinho”, mas é Jeová dos Exércitos. Portanto, antes de começarmos precisamos pensar melhor o que dizer e como dizer em nossas orações. 
Por outro lado, também podemos chegar confiantes, pois é “ao Pai” que estamos chegando e não a um deus alheio. Este trato de Pai implica em que podemos chegar a Ele com confiança, sabendo que Ele tem e quer o melhor para nossas vidas. Também implica em esta oração é somente possível para aqueles que foram salvos pela fé em Jesus Cristo, pois somente esses são considerados na Bíblia como filhos de Deus, adotados pelo Espírito Santo. O restante da humanidade não é tratado como filho, apenas como criação de Deus.
Também, Jesus acrescenta “Pai Nosso que estás nos céus”. Este ponto é muito importante, pois marca uma grande diferença com o conceito distorcido de paternidade que nós, humanos, temos. Deus não é um pai falho como um pai terreno, mas perfeito, fiel, justo, imutável, amoroso, benigno e tantas outras virtudes que lhe são próprias dos seus atributos celestiais. Isto deveria ser um consolo para todos aqueles que não têm um pai cristão aqui nessa terra, ou também para aqueles que já não têm mais seus pais por terem morrido. Não estamos sós. Temos um Pai perfeito nos céus. Ele nos ama e nos acolhe, nos aconselha e nos guia. Portanto, não fique triste pensando que você está sozinho, mas lembre: “eu tenho um Pai prefeito que está nos céus e que desde lá sempre me vê e me acompanha”. Isto tem sido um grande consolo para mim como homem, marido e, se Deus assim o permitir, futuro pai dos meus filhos. Eu sei que não estou sozinho, que tenho uma figura paternal perfeita, e que posso me espelhar nesse pai perfeito para me moldar como homem. Oh que grande consolo que as Escrituras nos dão!

Adoração

Temos dito anteriormente que após a invocação há três pedidos relacionados à adoração (versos 9c-10). Assim como nas bem-aventuranças, aqui também há uma sequência bem estabelecida. Antes de serem apresentados os três pedidos para as nossas necessidades, primeiro vem a nossa adoração a Deus. Esta se apresenta das seguintes formas:

A-     Santificado seja teu nome

O primeiro (verso 9c), é um pedido para que o nome de Deus seja santificado, isto é, para que seja reverenciado, considerado santo. As Sagradas Escrituras ensinam claramente que Deus é Santo, que seu nome é Santo, e que não precisa ser santificado em si mesmo. Mas o sentido aqui é o de pedirmos que Seu nome seja santificado em nossas vidas. Em certo sentido, os judeus entendiam bem o significado, pois eles tinham um grande temor e reverência pelo nome de Jeová. Muitas vezes os cristãos de nossos dias esquecem a santidade do nome de Deus e o usam em vão. Frases como “Deus meu!”, “meu Jesus!”, “Jesus Cristo!”, “Deus me livre!”, têm se tornado banal e são usadas para qualquer propósito sem o devido respeito ao terceiro Mandamento (Êxodo cap.20). Muitos nem se importam de jurar em vão pelo nome de Deus ou de quebrar um juramento feito no nome de Deus. Estas são formas em que, ao invés de o nome de Deus ser santificado, é banalizado e blasfemado entre os homens. Ora, alguém pode estar pensando: por que tanta importância dada ao nome de Deus? É porque Deus se deu a conhecer através do seu santo nome. A Bíblia nos ensina que o nome de Deus significa tudo o que Ele representa junto com todos seus atributos. É através do seu nome que ele se fez conhecer e não pela imagem visível. Todos os povos da terra tremiam diante do Deus YHWH (Javé ou Jeová) dos judeus. Eles ouviam falar dele e se espantavam de medo. E esse nome significa “Eu sou o que Sou/será”, ele simplesmente é, Ele autoexiste, Ele é eterno, Ele é a plenitude, é a perfeição. Portanto, seu nome deve ser santificado.
Contudo, outro aspecto muito importante é que este pedido inclui o desejo que seu nome seja, de fato, santificado no sentido de glorificado entre os homens. O próprio Senhor Jesus sempre se preocupava de dar glória ao Nome do Pai (veja por exemplo João 17.4-6). No sentido prático, trata-se de vivermos de maneira tal que as pessoas que nos vêm vivendo como cristãos não tenham o que reclamar de nós. Paulo disse em Romanos 2.23-24: “Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei? Pois, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por vossa causa”. Cada vez que nos comportamos de uma maneira incorreta diante dos homens, sendo cristãos, estamos desonrando o nome de Deus, e deixamos de santificar o seu nome. Por isso a importância de clamarmos: Santificado seja o teu nome!
Temos esse anelo? Será que estamos realmente preocupados com a glória de Deus em nossas vidas? Como isto impacta no nosso redor, nas pessoas que convivem conosco? São elas que deveriam avaliar e dizer se realmente vivemos para honrar o nome de Deus. Além disso, o fato de sabermos que o mundo jaz no maligno e que, portanto, o nome de Deus não está sendo glorificado entre as nações, deveria nos levar a um maior zelo evangelístico. As missões evangelísticas não devem estar focadas em primeiro lugar na necessidade de salvação dos homens, mas na necessidade da glorificação do nome de Deus entre as nações. Isto trará não apenas quantidade de convertidos, mas qualidade, pois não se tratará apenas de pessoas se batizarem, mas pessoas se converterem dos seus pecados para uma vida santa que glorifique o nome dEle.

B-     Venha o teu Reino

Ora, se temos um grande desejo pela glória de Deus manifesta nas nossas vidas e na face da Terra, este desejo nos levará naturalmente ao segundo pedido: “venha o teu Reino” (verso 10a). Como cristãos conhecedores da realidade humana e da existência do pecado, sabemos que Deus não está sendo completamente santificado e glorificado nesta Terra. Também sabemos que até os fins dos tempos o mal existirá e que, conforme as Escrituras, este será cada vez maior e mais generalizado. Portanto, basta implorar e clamar a Deus: Venha o teu Reino. Somente quando Cristo voltar e colocar até o último inimigo debaixo dos seus pés o nome de Deus será exaltado e glorificado completamente. Hoje há outro reino governando esta terra. “O mundo jaz no maligno” (1.João 5.19). Nós somos de outro reino, somos um povo subversivo semeando infiltradamente as sementes do evangelho. Mas um dia esse Reino virá.
Este clamor deve nos levar a desejar esse reino futuro. Há pessoas cristãs que têm uma visão de conquistar o mundo. Há quem acredite que antes da volta de Cristo todas as pessoas se converterão ao Evangelho. Mas isto não condiz com tal pedido da oração do Pai Nosso. Cabe a nós anunciarmos o evangelho e orarmos desta maneira clamando para que Ele seja glorificado e para que seu Reino seja instaurado eternamente. Temos esse desejo? Estamos prontos para sua vinda e para clamarmos para que isto aconteça?

C-     Faça-se a tua vontade

Bem, chegamos à conclusão dos três pedidos de adoração. Vejamos a sequência: desejamos que seu nome seja santificado. Como sabemos que hoje não é possível que isto aconteça totalmente, desejamos que venha seu Reino. Por fim, a conclusão é que também desejamos que se faça a sua vontade perfeitamente: “Faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu” (verso 10b). Isto significa que desejamos que Ele governe soberanamente sobre todo o universo. A Bíblia ensina que Deus é soberano e que inclusive o mal que acontece contra a sua vontade, não acontece sem a sua permissão. Porém, o desejo do crente é que reine a justiça e a paz, e que este mal seja erradicado.
É fácil falarmos desta vontade de Deus em um sentido bem geral. Ora, se pedimos isto também estamos nos incluindo na petição. O nosso primeiro desejo deveria ser que sua vontade reine soberanamente sobre nossas vidas. Que nada do que façamos seja contrário a seu desejo e que, por conseguinte, possamos viver como santos nesta terra. Hoje é muito comum escutarmos falar no meio cristão sobre os sonhos que cada um tem para sua vida. Que temos que lutar por nossos sonhos e que Deus os cumprirá. Mas esta oração é contrária a tal pensamento. Não são os nossos sonhos os que interessam, mas a vontade de Deus. Nosso maior desejo deve ser que seja o desejo dEle o que molde os nossos próprios desejos. Isto é, submissão e confiança plena em que a vontade de Deus é o melhor para nossas vidas. Estamos dispostos a orarmos assim?

Petições

Após a oração focar na adoração ao Pai, o Senhor Jesus desenvolve três pedidos centrados nas necessidades humanas (versos 11 a 13). Esta parte contempla três necessidades centrais, que estão equilibradas com as três petições de adoração. A grandeza dos três pedidos que veremos a seguir é  que eles envolvem os pontos mais essenciais para a vida do cristão. Há aqui uma maravilhosa sequência de prioridades, em uma ordem muito precisa. A primeira vista poderíamos pensar que esta ordem não apresenta as prioridades reais, pois ao invés de começar pela questão do pecado, começa pelo pedido do pão diário. Porém, logo veremos que há um motivo muito sensato nesta ordem oferecida por Jesus na sua oração.

A-     O pão de cada dia

O primeiro pedido pessoal que Jesus apresenta neste modelo de oração é “o pão nosso de cada dia, dá-nos hoje (verso 11)”. Isto é um reconhecimento da necessidade do sustento diário, da dependência diária que temos de Deus. Para o cristão, isto representa uma atitude de grande humildade. O mundo não quer depender de um ser superior para seu sustento. Muitas vezes ouvi na faculdade pessoas dizendo que tínhamos que estudar para não depender de ninguém. Em certo sentido é verdade, mas em um sentido mais profundo sabemos que, por cima de tudo, mesmo estudados e com profissões, dependemos do sustento que Deus nos dá a cada dia. Há, portanto, neste pedido, um reconhecimento de que nossa vida material depende totalmente dAquele que nos fornece todas as coisas. Somos como crianças que esperam que seus pais os alimentem e os forneçam do necessário para viver.
Chama a atenção também que Jesus não disse “dá-nos sempre nosso pão”, nem “não nos deixes faltar nunca o nosso pão”. Ele disse “o pão nosso de cada dia, dá-nos hoje”. É hoje que precisamos desse pão. Ele não está pedindo nem mais e nem menos daquilo que precisamos para hoje. Isto nos recorda do Maná, dado ao povo de Israel durante o deserto. Eles tinham que recolher o Maná a cada dia. Não podiam recolher a mais para os dias seguintes, não podiam acumular. Apenas podiam recolher aquilo que precisavam para esse dia. Certamente a tentação estava ai, e a Bíblia nos relata que alguns tentaram recolher a mais, mas o alimento pereceu. Com isto, Deus estava lhes dando uma grande lição: eles deviam aprender a depender dEle completamente. Eles precisavam aprender a ter fé que Deus lhes proveria no dia seguinte o Maná que precisavam para esse exato dia, nem mais, nem menos. Com isto Deus lhes ensinava a se lembrarem a cada dia da dependência dEle e a buscarem a cada dia o favor dEle. Por esta mesma razão, no Pai Nosso, a cada dia precisamos rogar “o pão nosso de cada dia, dá-nos hoje”. Temos um pai que se agrada em atender a este pedido e podemos confiar em que ele é capaz de nos suprir todas as nossas necessidades básicas da vida. Isto é um grande consolo para o cristão!
Também, notem que é pelo pão que Jesus ensina a orar, e não por outros alimentos mais luxuosos. O pão era o alimento básico da época de Jesus. O pão até hoje simboliza uma necessidade essencial para a sobrevivência humana nesta terra. O crente precisa vir até Deus em oração pedindo pelas suas necessidades essenciais. Tudo o que for acrescentado a isto é graça sobre graça dada por Deus. Lembre o que nos deixou escrito Tiago: “pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres” (Tiago 4.3). Não é pelos prazeres que devemos clamar e rogar a Deus, isso é cobiça, são desejos desordenados. Este ensinamento é totalmente contrário à teologia da prosperidade que promete riquezas aos crentes fiéis. Não é isto o que encontramos nas orações de Jesus.
Por último, uma pergunta poderia ser muito válida a estas alturas: se estamos considerando agora as necessidades pessoais, porque começar pelo pão diário e não pelo perdão de pecados que vem na sequência (verso12)? O Dr. Lloyd-Jones afirma que esta sequência é muito correta, pois antes de rogarmos por nossa alma, precisamos estar vivos e, para estarmos vivos, precisamos do sustento diário. Como bem disse o salmista “Os mortos não louvam o SENHOR, nem os que descem à região do silêncio” (Salmo 115.17). Claro que o salmista se refere a louvar nesta terra e nada tem a ver aqui com os mortos estarem na glória louvando a Deus. Para vivermos nesta terra em santidade, livres do pecado, como o próximo ponto da oração do Pai Nosso considera, primeiro precisamos viver e sermos sustentados com o pão diário. Então, o clamor é para que Deus nos mantenha vivos, para que possamos então sim louvá-lo e servi-lo com santa devoção.

B-     Perdoa nossas dívidas

Uma segunda necessidade do cristão é a do perdão diário por parte de Deus: “e perdoa-nos as nossas dívidas; assim como nós temos perdoado aos nossos devedores” (verso 12). Observem que estas palavras eram dirigidas aos discípulos de Cristo. Consequentemente, não se trata aqui de arrependimento para salvação, mas do reconhecimento diário do nosso estado decaído diante da santidade de Deus. O Pr. Paul Washer sempre menciona nas suas pregações evangelísticas que uma das principais marcas do crente verdadeiro não é que ele um dia se arrependeu e creu em Jesus Cristo (note o tempo passado da conjugação), mas que ele dia-a-dia se arrepende mais e mais dos seus pecados e crê que Jesus Cristo é a sua única solução para ser aceito diante de Deus (note o tempo presente na conjugação). À medida que crescemos na fé cristã, conhecemos mais de perto a Deus e, consequentemente, nos conhecemos cada vez melhor a nós mesmos e a nosso estado decaído. Conhecemos mais sobre o quão longe ainda estamos do padrão de santidade perfeita de Jesus, conhecemos mais da nossa natureza e nossas atitudes muitas vezes egoísta e mesquinha. Nada mais nos resta que dizer: “perdoa as nossas dívidas”. E ainda acrescentar a oração do salmista: "Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas" (Sl 19, 12), reconhecendo que nem sabemos todas as faltas que muitas vezes cometemos.
Um segundo aspecto deste pedido tem trazido muitas discussões e más interpretações. É o trecho que diz: “assim como nós temos perdoado aos nossos devedores” (verso 12b).  Mais adiante (outro capítulo do estudo), quando entremos no estudo do verso 14, teremos muito mais a dizer a respeito. Porém, não podemos deixar passar por alto pelo menos algo sobre este ponto. Algumas pessoas acreditam que o Pai Nosso não se aplica a nossa era da graça porque entendem que este trecho rata do perdão de Deus baseado nos méritos humanos. É como se disséssemos que Deus deve nos perdoar porque nós perdoamos primeiro aos nossos irmãos. Porém, observe que Jesus não disse “perdoa-nos porque perdoamos” nem “perdoa-nos com base no fato de que perdoamos”. Ele disse “assim como nós perdoamos”. Esta expressão não tem conotação de medida, não quer dizer que Deus tem que nos perdoar na quantidade e qualidade do nosso perdão. Não se trata de proporções comparativas, mas apenas em comparações fatuais. Isto é, Deus perdoa e nós também, como filhos dele, perdoamos. Muitas vezes se perde de foco a principal lição que Jesus está colocando aqui, a qual nada tem a ver com questões de méritos para o perdão. É uma lição muito mais simples que ele quer nos dar: Não podemos ter a pretensão de sermos perdoados por Deus se nós não temos o interesse e nem estamos dispostos a perdoar aos nossos próximos. Esta é a lição maior do ponto em questão. Nossa vida tem que ser coerente. Não podemos jogar pedras e esperarmos que nos joguem flores! É a regra de ouro que Jesus ensina mais adiante no mesmo sermão: “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles” (Mateus 7.12). O mesmo se aplica na relação com Deus. Não podemos nos achegar a Deus pedindo pelo seu perdão diário e sermos no dia-a-dia pessoas duras e sem compaixão. Isto é incoerente.

C-       Não nos deixes cair na tentação

O último pedido é “e não nos deixes cair na tentação; mas livra-nos do mal” (verso 13). Que grande lição podemos ter diante deste pedido! É muito mais fácil para nós orarmos pedindo perdão quando pecamos do que ficarmos em oração vigiando para não pecar. Veja que no ponto (b) consideramos o pedido de perdão. Mas quantos de nós, após sermos perdoados por Deus, perseveramos em oração para não voltarmos a cair no mesmo pecado? Este pedido nos ensina a não abaixarmos os braços e seguir lutando contra o pecado que nos assedia dia-a-dia.  Por conseguinte, este é um pedido “preventivo” (i.e. antes que um pecado ocorra), enquanto que o anterior é um pedido “corretivo” (i.e. quando um pecado ocorreu).
Por outro lado, este pedido não foca apenas no pecado consumado, mas o clamor é “livra-nos da tentação”, isto é, da prova que pode se consumir em um pecado. O crente deve desejar fugir de qualquer risco de cair em pecado. Ele não deve querer lutar contra o pecado, mas estar muito longe dele. Como bem instruiu Paulo ao jovem Timóteo quando disse: “Foge também das paixões da mocidade; e segue a justiça, a fé, o amor, e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor” (2 Timóteo 2.22). Contudo, sabemos que há situações onde Deus permite que sejamos tentados, como no caso da vida de Jó. Embora como crentes não desejemos a tentação, muitas vezes através dela, é quando nos achegamos mais a Deus para vencê-la, nos tornamos mais maduros. Outros, com suas quedas e feridas produzidas pelo próprio pecado, tem experimentado mais de perto o amor misericordioso de Deus que os tem aceitado novamente. Enfim, sabemos que devemos evitar as tentações, mas quando estas vierem podemos nos lembrar das palavras ditas por Paulo: “Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar” (1 Coríntios 10.13).
Mas o pedido não é apenas pela tentação. Jesus acrescenta: “mas livra-nos do mal” (verso 13). O que é o mal do qual precisamos ser livrados? Em Efésios 2.1-3 Paulo fala sobre três tipos de mal contra o qual combatemos. Primeiro, é claro que uma forma do mal é o Príncipe da Potestade do Ar, como diz em esse texto. É o Maligno, o Diabo, o Pai da Mentira, Satã ou Lúcifer. É claro que ele é o nosso principal inimigo e o destruidor desde o princípio. Porém, não temos que nos preocupar somente com ele, na verdade, a Bíblia nos diz que ele já foi vencido e lhe resta pouco por fazer. A segunda forma do mal que Paulo menciona nesse texto é “o mundo”, entendendo-se neste sentido ao “sistema” que rege o mundo e que se opõe a Deus. São as tendências progressistas pró-homossexualismo, pró-libertinagem, contra a família e contra as bases da religião. É também tudo o que o mundo nos oferece, como no livro “O Peregrino” de John Bunyan é ilustrado por meio do mercado das vaidades. Por fim, a terceira forma de mal, a mais sutil e não menos importante, que Paulo apresenta nesse texto é a nossa “carne”, isto é, as nossas próprias paixões e pensamentos pecaminosos. Muitas vezes o maior dos nossos inimigos somos nós mesmos. Portanto, contra todas estas formas do mal temos que estar vigiantes e em oração. Tal como disse o nosso Senhor antes de morrer, em Getsêmani: “Vigiai e orai para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mateus 26.41).

Conclusão

O final da oração do Pai Nosso conclui com uma exaltação de adoração tal como no início. Neste caso, o Senhor usa a seguinte expressão: “pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém!” (verso 13b). Esta conjunção “pois”, utilizada na invocação final, é importante para a nossa confiança na oração. Quer dizer que cada um dos pedidos que fizemos nesta oração é possível fazermos ao Pai e esperarmos que ele as cumpra “pois” dele é o reino, o poder e a glória para sempre. Podemos ter fé e segurança em essa oração “pois” ele é soberano e capaz de realiza-las. Nada há que detenha a sua vontade soberana. Que grande consolo e alegria para cristão! Oxalá cada um de nós possa orar com esta devoção e seguindo este modelo de oração. Que este modelo possa nos levar a uma intimidade de oração cada vez maior com o Pai e que clamemos junto aos discípulos pedindo a nosso Senhor: “Ensina-nos a orar”. Sim, ensina-nos a orar, bendito Senhor! Amém.

sábado, 16 de março de 2013

Seção Apologética: O que o cristianismo tem a ver com os Mórmons?


Acho que todos nós conhecemos os Mórmons (também conhecidos como “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”). São aqueles rapazes americanos, sempre em duplas, que andam recorrendo o mundo todo, vestidos de camisa branca, calça social, mochila e gravata, e anunciando uma “forma de cristianismo” diferente. Também algumas vezes podemos encontrar um templo dos Mórmons. Eles seguem uma arquitetura bastante padronizada, com estilo bem americano, e geralmente se vê pouco movimento nas suas redondezas. A questão que quero colocar aqui é a seguinte: por que considerarmos os Mórmons uma seita? Por que o evangelho que eles pregam não pode ser considerado cristão? Qual é o erro central da sua doutrina? Não pretendo entrar aqui nas doutrinas específicas que eles ensinam, mas sim pretendo mostrar brevemente a base errada da origem do pseudo-evangelho que eles apresentam. É importante salientar que, além da Bíblia, eles utilizam como referência o livro do profeta Mórmom, e foi neste livro que se originou este grupo. Veja a seguinte descrição a respeito da origem deles (ênfase meu em negrito): 

“...ele [John Smith, fundador da seita] declarou que que o “anjo Moroni” tinha lhe aparecido, mostrando-lhe uma coleção de placas de ouro, escritas em hieróglifos egípcios. Ademias, Moroni entrou-lhe duas “pedras de vidente” que lhe permitiam ler os hieróglifos. Escondido atrás de uma cortina, Smith dedicou-se a traduzir as placas em voz alta, enquanto outras pessoas, do outro lado da cortina, escreviam o que  ele ditava. Assim surgiu o Livro de Mórmom, publicado em 1830. No princípio do livro, incluía-se o testemunho de várias pessoas que diziam ter visto as placas originais, antes de Smith declarar que Moroni as reclamara e levara de volta. No mesmo livro, narrava-se a origem dos índios americanos, a partir da confusão de Babel. Depois de uma longa luta entre os índios bons e os maus, só dois restaram dos bons Mórmon e seu filho Moroni. Estes dois esconderam as placas de ouro, até que Moroni, reaparecendo na forma de anjo, mostrou-as a Smith” (Justo L. Gonzáles. História ilustrada do cristianismo, Vol.II, p.392, Ediçoes Vida Nova).

O que nós, cristãos conservadores, podemos responder à origem deste grupo? Muito simples: eles não se encaixam no ensinamento apostólico. Em Efésios 2 encontramos escrito que a mensagem de salvação de Cristo foi manifesta por meio dos apóstolos e Paulo conclui em Efésios 2.19b-20: “...sois família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular”. O Antigo Testamento da Bíblia fundamentado nos profetas e o Novo Testamento nos apóstolos. A mensagem de salvação de Cristo tinha sido encomendada aos apóstolos, e aqui vem nosso ponto contra os Mórmons: este livro nega a mensagem apostólica, pois desconsidera as palavras do apóstolo Paulo em Gálatas 1.6-9:

“Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema.”
Portanto, a própria Bíblia que os Mórmons dizem seguir, nega a eficácia do livro central da religião deles (o livro de Mórmom), pois este livro foi dado teoricamente por um anjo dos céus. Paulo diz que qualquer evangelho diferente, que acrescente algo àquele já dado por meio dos apóstolos, seja anátema, isto é, maldito, mesmo que tenha sido dado por um anjo dos céus. Como esta a igreja afirma que o Livro de Mórmon é um outro testamento de Jesus Cristo, nada nos resta para dizer a tal doutrina, apenas que eles precisam voltar ao evangelho da verdade, aquele dado por Cristo e seus apóstolos escolhidos e apresentado nas Sagradas Escrituras. Como bem disseram os Reformadores do Século XVI em uma de suas cinco solas: “Sola Scriptura” (Somente as Escrituras). Que sejam somente as Sagradas Escrituras apresentadas na Bíblia a nossa única base de fé!

quinta-feira, 14 de março de 2013

Seção apologética - Pergunta de um amigo: qual a explicação para só existirem Padres e Papas HOMENS?



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O ensinamento bíblico é que homens e mulheres são iguais diante de Deus, porém, com papeis e funções diferentes neste mundo. Isto nada tem a ver com discriminação, nem com o machismo histórico. Veja bem: funções bem definidas e diferentes. A Bíblia coloca essas funções da seguinte maneira: foi dado ao homem liderar a terra, ele foi formado e criado com características para poder liderar e carregar responsabilidades, enquanto sua mulher seria a auxiliadora idônea. A mulher não foi criada para ser menos, mas para caminhar do lado do homem e auxiliá-lo em toda  decisão que este deva tomar. Ela deveria ajudá-lo a pensar, a enxergar desde uma perspectiva que este é incapaz de enxergar pela sua própria constituição masculina. Por outro lado, cabe ao homem carregar a responsabilidade de amar sua mulher e protegê-la, ela deveria se sentir segura nele. O homem deveria seguir o exemplo de amor que Cristo tem com sua Igreja, que a conduz com mansidão e amor incondicional.
Segundo a Bíblia, este princípio se aplica em todas as esferas, inclusive na ordem eclesiástica. Portanto, entendo que os líderes da Igreja devam ser homens, mas apoiados e acompanhados pelas mulheres. Neste ponto, eu como evangélico protestante, discordo do Papismo, pois o celibato impede que o líder tenha do seu lado uma auxiliadora idônea. É por isso que na igreja evangélica protestante (de linha conservadora) temos pastores que exercem seu ministério junto a suas esposas, trabalhando juntos na obra de Deus.
Alguns textos para consultar: Gênesis 2.18-25, Efésios 5.22-33, 1 Timóteo 3.1-13, 1 Pedro 3.1-8.
Alguns estudos que podem ajudar a entender melhor os papeis do homem e a mulher sob a perspectiva cristã: (i) Pregação de casamento; (ii) Estudo bíblico sobre o matrimônio.