quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A acusação de Satanás e a Soberania de Deus (Jó 1.6-12)

“Num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o SENHOR, veio também Satanás entre eles.
Então, perguntou o SENHOR a Satanás: Donde vens? Satanás respondeu ao SENHOR e disse: De rodear a terra e passear por ela.
Perguntou ainda o SENHOR a Satanás: Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal.
Então, respondeu Satanás ao SENHOR: Porventura, Jó debalde teme a Deus?
Acaso, não o cercaste com sebe, a ele, a sua casa e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste, e os seus bens se multiplicaram na terra.
Estende, porém, a mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema contra ti na tua face.
Disse o SENHOR a Satanás: Eis que tudo quanto ele tem está em teu poder; somente contra ele não estendas a mão. E Satanás saiu da presença do SENHOR.” (Jó 1.6-12)

Seguindo com as meditações sobre o livro de Jó que tínhamos apresentado nos últimos dois post deste blog, agora queremos nos deter no texto de acima. A visão que frequentemente se tem acerca desse relato é que simplesmente satanás pediu para tentar Jó, querendo demostrar que o amor que Jó tinha a Deus era apenas o resultado das benções materiais que ele tinha recebido. Nada há de errado nesta interpretação, certamente satanás é o pai da teologia da prosperidade, a mesma que hoje se prega em muitas igrejas e que coloca a Deus quase que ao serviço do homem, dando-lhe benções para que o homem lhe sirva. É claro que isto estava na mente de satanás. Porém essa visão é ainda um pouco restrita a respeito do que o texto nos quer dizer.
Se observarmos como se desenvolve o relato da conversa entre Deus e satanás, veremos que é Deus quem chama a atenção de satanás para que este observe a obediência e fidelidade de Jó: “Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal” (Jó 1.8). Além disso, é Deus quem autoriza satanás para tocar Jó com o mal (veja cap.1.12). O diabo apenas podia acusar àquele que Deus estava colocando diante dele e somente podia fazer mal àquele a quem Deus lhe estava dando autorização. Vemos nesta história o controle de Deus desde o princípio até o fim: No princípio, permitindo que o mal acontecesse na vida de Jó e restringindo a ação do inimigo a pontos específicos que lhe foram permitidos. Por outro lado, no fim, Deus tem o controle porque mostra para Jó a sua grandeza e capacidade de lhe restituir tudo quanto este tinha, lhe confortar o coração e lhe abençoar muito mais do que ele teria imaginado.

Mas por que fez Deus tudo isto? Por que Deus permitiu esse mal contra Jó e, ainda, foi ele quem colocou o dedo de satanás acima de Jó? Eu encontro duas explicações a isto:

(i) Em primeiro lugar, Deus permitiu isto para mostrar a ignorância de satanás diante de Deus, que achava que a fidelidade dos verdadeiros servos de Deus deve-se às benções recebidas. O inimigo não entende nada sobre fé, isto foi demostrado aqui, pois satanás disse: “Estende, porém, a mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema contra ti na tua face”. Ainda, depois disto, na segunda vez que satanás se apresenta diante de Deus, ele diz para Deus: “Estende, porém, a mão, toca-lhe nos ossos e na carne e verás se não blasfema contra ti na tua face” (Jó 2.5). Satanás também achava que a fidelidade dos servos de Deus, se não estiver baseada nos bens materiais, pelo menos está baseada na saúde física. Vemos aqui outra teologia diabólica: aquela que se prega nas igrejas sobre os milagres de curas e a saúde daqueles que não tem pecado. Mas Deus deixou isto acontecer, aliás, ele quis que isto acontecesse e incitou o acontecimento, para mostrar a glória dEle na salvação dos seus filhos, que o servem incondicionalmente, até com a própria vida, pois, como disse Jó: “o SENHOR deu, e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR!” (Jó 1.21).

(ii) Em segundo lugar, Deus permitiu isto para mostrar ao próprio Jó a grandeza de Deus. É interessante notar que Deus não poupou a vida dos filhos de Jó, nem os seus bens, nada. Tudo foi usado para dar uma lição a Jó. Deus amava Jó e queria lhe ensinar a sua ignorância e a grandeza dAquele que o sustentava. Desta maneira, depois de todo o questionamento que Jó faz sobre a sua situação, Deus se manifesta a ele. Para lhe explicações? Não! Era isto o que Jó queria, mas Deus se manifesta a Jó para lhe questionar e lhe mostrar o ignorante que Jó era (veja caps.38-41). E depois de ter Jó entendido que não entende de nada, o único que lhe restava era se prostrar diante do Criador e adorá-lo, como disse Jó:
“Então, Jó respondeu ao SENHOR e disse: Sou indigno; que te responderia eu? Ponho a mão na minha boca. Uma vez falei e não replicarei, aliás, duas vezes, porém não prosseguirei” (Jó 40.3-5).
Ou também a declaração que faz Jó mais adiante:
“Então, respondeu Jó ao SENHOR: Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado. Quem é aquele, como disseste, que sem conhecimento encobre o conselho? Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia. Escuta-me, pois, havias dito, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás. Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 41.1-6)

Em ambos os pontos podemos ver que Deus usa de sua Soberania até encima de satanás. O diabo foi usado, em toda a sua ignorância diante de Deus, para cumprir os propósitos do nosso Soberano Deus. Da mesma maneira que satanás foi usado para que os homens crucifixassem a Cristo, quem já desde antes da fundação do mundo tinha sido colocado como sacrifício agradável diante de Deus por amor dos eleitos. Satanás queria impedir o plano de Deus, mas na verdade, sem saber, ele o estava executando passo a passo, pois quem tem o controle de toda a história é Deus e somente Ele.

Glória seja dada a ao Senhor, por sabermos que somos filhos de um Deus soberano. Como disse A.W. Pink: “O fato em si de que a vontade de Deus é irresistível e irreversível enche-me de temor; mas, tão logo reconheço que Deus só determina aquilo que é bom, meu coração se regozija”.

Alejandro G. Frank
Base Bíblica para a Vida Cristã

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A integridade de Jó (Jó cap.29)

Como já disse no post anterior, estou realizando umas meditações sobre o livro de Jó e vários aspectos deste livro tem me falado bastante. Nesta meditação quero destacar alguns pontos sobre a integridade de Jó.
Neste livro podemos ver que Deus se agradava da integridade de seu servo Jó (Jó.1.8 e 2.3). Mesmo com todo o sofrimento de Jó, com todas suas queixas diante de Deus pela injustiça do seu sofrimento, o Senhor não se desagradou de Jó. O Senhor entendia a dor de Jó, embora Ele quisesse ensinar a Jó uma grande lição: a ignorância de Jó diante de Deus e a grandeza de Deus ( veja capítulos 38 ao 41 e 42.1-6). O Senhor assinalou a Jó como um servo fiel.
Mas como era Jó para que Deus se agradasse dele? Quais eram suas características? Como ele se comportava? Gostaria de dividir o caráter de Jó em duas partes: 1) O caráter de Jó em relação a Deus e 2) O caráter de Jó em relação às pessoas. Claro que o segundo é um resultado do primeiro, mas acho importante vermos os dois aspectos, pois um é o aspecto espiritual e o outro é o resultado prático.
O caráter de Jó em relação a Deus
Podemos observar as seguintes características de Jó em relação a Deus:
1) Jó aceitava tanto o bem como o mal que viam da mão do Senhor, mesmo não entendendo o porquê. Ele cria que Deus é Soberano (Jó.1.21 e 2.10).
2) Ele tinha uma fé inabalável, crendo que Deus era perfeito no que fazia, como se vê no cap.1.22: “Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma”. Além de ter a sua esperança no Senhor, como diz no cap. 19.25-27: “Porque eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra. Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei a Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, os meus olhos o verão, e não outros; de saudade me desfalece o coração dentro de mim.”
3) Ele buscava Deus para derramar suas lágrimas, e não seus amigos. Deus era seu consolo: “Os meus amigos zombam de mim, mas os meus olhos se desfazem em lágrimas diante de Deus” (Jó.16.20).
4) Embora Jó não entendesse o motivo ou pecado pelo qual ele estava sofrendo, e embora se achasse justo diante de Deus sem existir um motivo para estar padecendo, ele não negava a sua natureza pecaminosa e os “pecados da sua mocidade” (Jó.7.17-21; 19.23-26; 42.1-6).
5) El entendia que a sabedoria e o conhecimento não tinham nada a ver com o ser humano, mas com o temer ao Senhor (Jó.28.28).
6) Ele não blasfemava contra Deus, mesmo quando até a sua esposa o incitasse a isso (Jó 2.9-10).
7) Ele não adorava aos ídolos (Jó 31.26-27).

O caráter de Jó em relação aos homens
Já disse que estas características são o resultado de temer ao Senhor (Jó 28.28). Mas vejamos como se aplicava o temor de Jó a Deus na sua vida prática:
1) Ele intercedia diante de Deus por sua família e pelos “possíveis” pecados que seus filhos poderiam ter cometido (Jó.1.5).
2) Ele estava disposto a morrer se mantendo íntegro, verdadeiro e justo. Nada era suficientemente grande para ele mudar estas coisas (Jó 27.4-6).
3) Ele ensinava a muitos, fortalecia aos fracos, encorajava aos que estavam do seu lado (Jó.4.3).
4) Ele era reconhecido diante dos jovens e idosos como um homem íntegro e exemplar, isto é, ele era um bom testemunho (Jó 29.7-11).
5) Ele livrava e ajudava a pobres e órfãos (Jó 29.12; 31.16).
6) Ele confortava as viúvas e as alegrava (Jó.29.13; 31.16).
7) Ele guiava aos cegos e mancos (Jó 29.15).
8) Era pai dos necessitados (Jó 29.16).
9) Examinava tudo, especialmente as causas dos desconhecidos (Jó.29.16).
10) Aplicava justiça aos malvados (Jó 29.17).
11) Suas palavras eram sábias e todos as respeitavam (Jó.29.21-22).
12) Se alegrava e até ria ou sorria junto com os seus (Jó 29.24).
13) Ele dirigia o caminho dos seus como um chefe de família (Jó 29.25).
14) Ele tinha feito "aliança" com seus olhos, para não pecar olhando outras mulheres (Jó.31.1; 31.9).
15) Ele não seguia o seu próprio coração, não andava em falsidade, nem enganava às pessoas (Jó.31.5-7).
16) Ele respeitava o direito dos seus servos (Jó 31.13).
17) Ele não colocava a sua esperança nos bens materiais (Jó 31.24-25).
18) Ele não se alegrava com a desgraça dos seus inimigos (Jó 31.29-30).

Bom, este é um resumo das características de Jó. Minha oração diante do Senhor é para que possamos ter essa integridade que vemos em Jó e que estejamos preparados para sofrer assim como ele teve que sofrer. Que o Senhor Deus tenha misericórdia de nós e que pela graça de Jesus possamos estar em pé firmes nEle com os olhos em Cristo, o autor e consumador da Salvação. Somente nEle podemos viver como Jó, pois o princípio da sabedoria é o temor do Senhor (Jó 28.28).
Soli Deo Gloria
Alejandro Frank
Base Bíblica para a Vida Cristã

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Sabedoria e temor do Senhor (Jó.28.28)

“E disse [Deus] ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento” Jó.28.28

Hoje estive lendo o livro de Jó. Este texto tem sempre me chamado muita atenção e quis compartilhar uma breve meditação ao respeito, fazendo uma análise desta afirmação.
Se observarmos o comportamento da humanidade em nossos tempos, podemos ver que muito se fala a respeito de conhecimento, mas a sabedoria é mais vista como uma coisa dos antigos, de outras épocas, ou no mais de nossos avós e das pessoas idosas. Também vemos pessoas correndo desenfreadamente para coisas tolas. A vaidade, a cobiça, a destruição da família por meio de adultérios e interesses particulares, a auto-destruição dos jovens por meio da fornicação e das drogas, e assim poderíamos ver uma longa lista de coisas que preocupam à sociedade e, com certeza, também à Igreja.
No meio de toda essa loucura, poderíamos nos perguntar: Mas onde se achará sabedoria? E onde está o lugar do entendimento? Onde estão eles? Parece ser que o homem não conhece o valor dela, nem se acha ela na terra dos viventes. É isso o que o próprio Jó afirmou no seu discurso, no capítulo 28, versos 12-13. Os amigos de Jó falavam muito para ele sobre a sabedoria, mas Jó pergunta: onde se achará a sabedoria? Pois se observamos a terra não vemos a humanidade agindo assim. Mas a conclusão de Jó foi a correta: “Eis que o temor do Senhor é a sabedoria e o apartar-se do mal a inteligência” (Jó 28.28). Então, porque os homens não tem sabedoria? A resposta é: porque não tem temor do Senhor. Porque os homens não tem inteligência nas suas ações? A resposta é: porque não se apartam do mal.
Para ter sabedoria, o homem precisa começar a ter um temor santo do Deus criador de todas as coisas. Mas o que significa ter temor de Deus, o que isso envolve? Eis aqui uma breve lista de coisas que, pelo menos eu, no meu entendimento bíblico, considero que fazem parte do temer ao Senhor:
1) Ter consciência da santidade e da grandeza de Deus, lembrando que ele, além de ser amor, é fogo consumidor (He.12.28-29).
2) Ter consciência dos nossos pecados e de que não somos nada diante de Deus (Ro.7.1-25).
3) Ter consciência que um dia deveremos dar conta de tudo o que fizermos diante de Deus, sendo que ele já sabe todas as intenções do nosso coração e que, naquele dia, tudo o que estiver escondido diante dos homens será revelado e seremos julgados (1.Co.4.5).
4) Ter consciência que Cristo foi crucificado uma só vez por nós e que não será exposto à ignominia por aqueles que dizer ser seus servos (He.6.4-11).
Em primeiro lugar não podemos ter temor se não compreendermos de quem nós temos temor. Sempre se tem temor de algo, ou de alguém. Para termos temor de Deus, precisamos saber primeiro quem é Deus. Em segundo lugar, ter temor de alguém envolve também o motivo que me produz esse temor. Esse motivo tem a ver com meus pecados, com minhas ações que estão sendo vistas diante dEle. Isso nos leva ao terceiro ponto, que é saber que minhas ações serão julgadas diante do Deus verdadeiro, diante do Santo dos Santos, diante do justo Juiz. Isso deve nos encher de temor, por causa dos meus pecados e deve nos levar a viver corretamente, conforme a vontade de Deus. Mas, claro que alguém poderia dizer: não preciso ter temor porque Cristo morreu por mim. É verdade, concordo, mas eis aqui que entra o quarto ponto: Cristo não será exposto à ignomínia, quer dizer à vergonha. Nossas obras serão julgadas: se somos filhos de Deus, lavados pelo sangue de Cristo, justificados e redimidos pela graça de Jesus, então fomos criados para toda boa obra. A vida do cristão deve buscar essa sabedoria porque o cristão tem temor de Deus e temor de colocar ao seu Salvador à vergonha e zombaria do mundo. Hoje, em muitos casos, o mundo zomba de Cristo por haverem pessoas que dizem serem cristãos, mas não vivem sabiamente nem tem esse temor santo ao seu Deus!
Então irmãos, tenhamos temor do Senhor, avaliemos as nossas obras e ações para que elas sejam conforme aos padrões que Deus pede de seus filhos. Vivamos com justiça e retidão, sendo um testemunho de Cristo neste mundo. Somente assim é que viveremos sabiamente, porque a verdadeira sabedoria tem a ver com viver na prática do dia a dia de acordo com a vontade do Senhor. Lembrem que isso só vem a partir do temor que temos dEle.
“Servi ao SENHOR com temor e alegrai-vos nele com tremor” Salmo 2.11

Alejandro Frank
Base Bíblica para a Vida Cristã